230. António Reis, o poeta - por José Carlos de Vasconcelos
Editorial
António Reis, o poeta
Porque, mais, era inadmissível estes poemas estarem há décadas inacessíveis ao público: última edição a da Portugália, em 1967, com prefácio do Eduardo (Prado Coelho). E porque, enfim, por tudo isto eu próprio tive há muito a ideia/intenção de os reeditar, o que por vários motivos acabei lamentavelmente por não fazer. Pretendia eu, aliás, acrescentar aos cem poemas da edição da Portugália - que reunia os dos Poemas Quotidianos, de 1957, e Novos Poemas Quotidianos, de 1960, mais alguns inéditos -, novos poemas inéditos, da mesma linha, que sei entretanto o António Reis (AR) escrevera e alguns dos quais eu publiquei no Diário de Notícias quando estive na sua direção, após o 25 de Abril.
Sem nunca deixar de ser o poeta que sempre foi, a forma de expressão artística privilegiada que ao AR se impôs, a partir de certa altura, deixou de ser a da poesia para passar a ser a do cinema. Cinema que de resto sempre foi uma paixão e atividade sua, e no qual deixou uma obra tão assinalável que para um Pedro Costa representou "a oportunidade de passar a ter um passado no cinema português". Só que, ao contrário do que seria natural e desejável, a obra do cineasta não chamou mais a atenção para o poeta, antes contribuiu para o seu tão injusto esquecimento ou mesmo apagamento.
Quando o poeta não é "menor" que o cineasta e não há nos seus filmes muito do que existe nos seus versos de um "realismo intimista", um lirismo tão comovido como contido, em que as coisas aparentemente "banais" do dia-a-dia ganham uma dimensão e uma beleza, as mais das vezes melancólica, únicas.
Por agora limito-me a chamar a atenção dos leitores para Poemas Quotidianos, (re)lançados com a chancela da Tinta da China, em coleção dirigida por Pedro Mexia - a quem se fica, pois, a dever a escolha e publicação -, com prefácio do excelente prof. e crítico Fernando J. B. Martinho, e posfácio do realizador Joaquim Sapinho. Mas se nestas colunas do JL sempre demos o justo relevo ao trabalho de António Reis, muito gostaria de proximamente a ele voltar como merece, aproveitando esta reedição e, talvez, o facto de se vivo fosse o António Reis fazer 90 anos a 27 de agosto próximo.
José Carlos de Vasconcelos
Jornal JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, p. 3, de 19 de Julho a 1 de Agosto de 2017.
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