120. HEI-DE ENTRAR NAS CASAS
também
Como o silêncio
A ver os retratos dos mortos
nas paredes
um bombeiro um menino
A ver os monogramas bordados nos lençóis
os vestidos virados
os vestidos tingidos
os diplomas de honra
as redomas
E a caderneta de Socorros Mútuos
e Fúnebres
em atraso
Hei-de entrar nas casas
também
como o luar
A ver as faltas de roupa interior
e de cama
os rostos preocupados
com os avisos da luz e da água
com a máquina de petróleo apagada
jornais nas paredes
e um pássaro na varanda
a cantar
ao lado duma flor
António Reis - Poemas Quotidianos, pág. 27 e 28, Porto, [1957].
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