sexta-feira, setembro 14, 2018

217. ODE À AMIZADE

Este livro inclui os "Poemas da Insatisfação", "Poemas à Companheira Esquecida", "Novos Poemas da Insatisfação" e...

Ode à Amizade


Vem canto branco da Amizade

Vem erguer-te em linhas novas transparentes mostrando o embrião do Sentimento

Vem canto branco da Amizade

Estende os teus braços de mulher com mãos de tentáculos e ventosas

Vem canto branco da Amizade
Vem

com mãos de tentáculos e ventosas mas sem ardil de sépia para fuga Sangue novo (e não importa a cor) estue nas tuas veias

Vem canto branco da Amizade
Vem

Fontes de crianças são ansiosas com punhados de Sonhos e de Beijos (Olha os lírios brancos Os cavalinhos de bazar)

Vem canto branco

Vem calar a Morte

Vem calar a pena de viver e almas novas plantar em cada sexo

Vem canto branco da Amizade

Vem descartar a Vida

Vem pastora núbil

Vem tanger com Compreensão e Sacrifício os Gestos sádicos dos Homens

Vem pastora núbil

parar o voo das setas de desporto e ligar as vias férreas das ideias

Vem núcleo preciso

Vem perpendicularmente cruzar as linhas paralelas das vontades

Vem núcleo preciso

ser o cérebro do Mundo em congestão

Vem núcleo preciso

há em teu andar uma Serenidade que convence

Vem núcleo preciso

há em teu andar uma Serenidade que convém

Vem mãe dos órfãos com mãe

convergir os pontos divergentes Ensinar aos Homens a última Geometria

Vem mãe dos órfãos

a patrocinar
a calar a Morte
a calar a pena de viver

Vem mãe dos órfãos

Sangue novo (e não importa a cor) estue nas tuas veias (Acabaram as cores raciais Os Homens-Irmãos as mataram na sua paleta velha O Arco-Íris agora é um diadema de luz única Há o céu azul do Amor para contraste)

Vem mãe dos órfãos
Vem

ensinar na prática aos meninos a conjugação de todo o verbo AMAR

Vem padroeira
Vem

Há milénios o Mar ciranda o mesmo canto Canto sempre verde Canto sempre verde e inflexível apesar da represa da Terra

Não virgem fértil
Não sejas estéril por pudor
Não fujas à vontade de entregar-te É humano o calor que te acicata

Abre
Abre a tua leiva ao sémen do nosso Sonho

António Reis - Ode à Amizade, pág. 43-47, Porto, 1952.