217. ODE À AMIZADE
Ode à Amizade
Vem canto branco da Amizade
Vem erguer-te em linhas novas transparentes mostrando o embrião do Sentimento
Vem canto branco da Amizade
Estende os teus braços de mulher com mãos de tentáculos e ventosas
Vem canto branco da Amizade
Vem
com mãos de tentáculos e ventosas mas sem ardil de sépia para fuga Sangue novo (e não importa a cor) estue nas tuas veias
Vem canto branco da Amizade
Vem
Fontes de crianças são ansiosas com punhados de Sonhos e de Beijos (Olha os lírios brancos Os cavalinhos de bazar)
Vem canto branco
Vem calar a Morte
Vem calar a pena de viver e almas novas plantar em cada sexo
Vem canto branco da Amizade
Vem descartar a Vida
Vem pastora núbil
Vem tanger com Compreensão e Sacrifício os Gestos sádicos dos Homens
Vem pastora núbil
parar o voo das setas de desporto e ligar as vias férreas das ideias
Vem núcleo preciso
Vem perpendicularmente cruzar as linhas paralelas das vontades
Vem núcleo preciso
ser o cérebro do Mundo em congestão
Vem núcleo preciso
há em teu andar uma Serenidade que convence
Vem núcleo preciso
há em teu andar uma Serenidade que convém
Vem mãe dos órfãos com mãe
convergir os pontos divergentes Ensinar aos Homens a última Geometria
Vem mãe dos órfãos
a patrocinar
a calar a Morte
a calar a pena de viver
Vem mãe dos órfãos
Sangue novo (e não importa a cor) estue nas tuas veias (Acabaram as cores raciais Os Homens-Irmãos as mataram na sua paleta velha O Arco-Íris agora é um diadema de luz única Há o céu azul do Amor para contraste)
Vem mãe dos órfãos
Vem
ensinar na prática aos meninos a conjugação de todo o verbo AMAR
Vem padroeira
Vem
Há milénios o Mar ciranda o mesmo canto Canto sempre verde Canto sempre verde e inflexível apesar da represa da Terra
Não virgem fértil
Não sejas estéril por pudor
Não fujas à vontade de entregar-te É humano o calor que te acicata
Abre
Abre a tua leiva ao sémen do nosso Sonho
António Reis - Ode à Amizade, pág. 43-47, Porto, 1952.
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