domingo, junho 24, 2007

156. «JAIME» - Poema de Vespeira

«JAIME FERNANDES»
UM FILME DE ANTÓNIO REIS

- «Ninguém, só eu.»
A primeira frase
que António Reis escolhe e colhe,
nas cartas de Jaime Fernandes,
escritas à sua mulher.
É o primeiro
silvo que sulca o silêncio,
que nos identifica,
que nos acusa.
-Estamos todos em ninguém
e somos só eu...
Terríveis imagens
aquelas, duma,
arena-prisão-cemitério,
que são
o nosso espectáculo
a nossa casa
a nossa sepultura,
solidão-representação
solidão-habitação
solidão-numeração...
Arena-prisão-cemitério
é terra de Jaime Fernandes,
é terra por nós oferecida
é terra por nós perdida.
- «Vi as redes para dentro.»
destaca e ataca António Reis.
Destaca a branco
e ataca a negro.
as redes apertam-nos para dentro dos desenhos
as redes apertam-nos por dentro dos desenhos,
os desenhos para dentro dos desenhos
os desenhos por dentro dos desenhos,
as redes para dentro das redes
as redes por dentro das redes.
- Dentro-para-dentro...
Diagnóstico:

JAIME FERNANDES SOMOS TODOS NÓS!

22-1-1974
VESPEIRA

Jornal Jornal do Fundão, págs. 1 e 8-9, 27 de Janeiro de 1974 (Dir. António Palouro)