quinta-feira, julho 21, 2005

091. "PEDRO PÁRAMO" – Ficha, sinopse e considerações diversas

Pedro Páramo
Margarida Cordeiro

Realizador: Margarida Cordeiro
Diálogos e Argumento: Margarida Cordeiro
Duração: 90 min
Formato: 35 mm, cor
Produtor: José Mazeda
Produção: Take 2000
Co-Produção: Ariane Films – Andres Santana (Espanha); Sand Films – Jaques Sandoz (Suíça)
Financiamento: ICAM

A leste do paraíso Juan Preciado desce para Comala à procura de seu pai Pedro Páramo. Encontra um jovem mestiço que lhe diz ser também filho de Pedro Páramo, mas que este, latifundiário cruel, já morreu há anos.
Inferno labiríntico de sofrimentos sem sentido, e, ao mesmo tempo um vibrante hino à vida e ao amor
.

in Portugal Filme, pág. 41, 2002. Ficha e sinopse do projecto. Filmografia de Margarida Cordeiro

Considerações diversas sobre este projecto não-concretizado:

. in 5 èmes jounées (26-27-28-29 janvier 1995) de cinéma (cinéma ariel – mt st aignan) portugais, rouen – France, pág. 7, « 11 questions à Margarida Cordeiro», feitas a 21 de Dezembro e respondidas a 29 de Dezembro de 1994:

António Reis et vous avez travaillé, depuis longtemps déjà, à un projet de film se proposant d’adapter Pedro Páramo, le roman de l’écrivain mexicain Juan Rulfo. Vous souhaitez poursuivre et achever le projet, notamment comme geste d’hommage à António Reis, et en même temps vous êtes très pessimiste sur la possibilité de le mener à terme, au regard du grand nombre de difficultés qui se trouvent sur votre chemin, à commencer par le refus, jusqu’à maintenant, de l’Institut Portugais de Cinéma de co-financer ce film (qu’il faut tourner au Mexique, ce qui en renchérit le coût), qui dispose d’une co-productio luso-helvétique. Pourquoi ce livre? Pourquoi le Mexique qui vous emmène si loin du Nord-Est du Portugal qui a été votre puissante terre de cinéma? Et, dans ces difficultés, que peut-on faire, nous, ici, pour vous y aider?

- J’ai travaillé trois ans et demi avec António, plus un temps équivalent seule. Le scénario est prêt depuis beaucoup de temps. On m’a promis de l’argent. Ensuite, on me l’a refusé net, il y a quelques trois mois.
Pour répondre à votre question, je vais vous raconter une histoire. António e moi, nous étions tombes amoureux fous d’un livre (c’est un chef d’oeuvre de la littérature mondiale). Ce livre était à la base de notre projet de film, un projet secret. Une critique de cinéma était venue au Portugal, à la Cinémathèque, voir des films portugais autres que ceux faits (et divulgués) par l’unique bénéficiaire du système. Elle a vu beaucoup de films, et aussi les nôtres. Elle a dit, très impressionnés, qu’elle sentait une atmosphère, un monde qu’elle connaissait bien, comme si nos quatre films dessinaient un aboutissement, une trajectoire jusqu’à une œuvre d’un auteur mexicain qu’elle connaissait. Comment s’appelle-t-il? avons-nous demande en sursaut. C’était Juan Rulfo. C’était Pedro Páramo. Déjà. Il y a 7 ans.
Quant à ce qui pourrait nous aider, un miracle seulement.

. in Ilda Castro - Cineastas Portuguesas 1874-1956, págs 92-107, Câmara Municipal de Lisboa, 2000:

Queria dizer que, tendo em conta que qualquer um desses filmes é um cinema muito especial, muito conceptual...

- É irrepetível. Por isso acho um crime terem-nos cerceado o Pedro Páramo. O António ainda estava vivo, foram cerca de dois anos. Era a nossa saída da província pela primeira vez. Era o culminar do que tínhamos feito até ali.

O Pedro Páramo era o vosso quarto projecto, mas não conseguiram apoio do IPC.

- De todo!

(...)

Como foi a reacção da crítica aos vossos filmes?

- A crítica sei-a toda, porque está coleccionada, tenho um dossier impressionante, dado que tive de o fazer para concorrer como o Pedro Páramo. Concorri duas vezes por ano, durante oito anos – mais dois anos com o António, foram dez anos. A crítica era muita boa, em geral; o João Lopes, o Leitão Ramos, o João Mário Grilo por vezes também falava bem; nos actores, o Artur Semedo... Agora não me estou a recordar

(...)

Alguma vez pensou esquecer completamente o facto de durante dez anos não obter apoio financeiro para o projecto e...

- Era só a comparticipação portuguesa, a que eu tenho direito, porque eu pago impostos. Era só a contribuição portuguesa, porque o resto eu arranjava lá
fora. As co-produções é assim que funcionam, dá-se aqui uma fatia do orçamento e depois os co-produtores avançam. Não posso é passar para o apoio externo sem a quotização portuguesa. E foi isso que me fizeram, sempre me impediram na primeira fase. Cheguei a ficar em segundo lugar, eles não me punham nunca no fim da lista, andaram a gozar comigo mesmo. É opinião minha e dos meus amigos.

Nunca pensou pôr uma pedra em cima de tudo isso, comprar uma câmara de vídeo e começar a fazer os seus filmes, já noutra perspectiva?

- Não, não. Eu não tenho jeito para filmar, não sou boa técnica. Tenho ideias. Normalmente, o operador ajuda-me, eu digo: "Quero isto, ponha a técnica e faça-me isto desta maneira". Tenho ideias visuais muito nítidas. Por exemplo, em relação ao Pedro Páramo tenho as cenas todas na cabeça, podia fazer esquemas. Cheguei a ir duas vezes ao México, havia sítios que inclusive já tinha escolhido.

O filme passa-se no México, portanto.

- Só os exteriores, que até nem são muitos, para ser mais baratos. Os interiores far-se-iam aqui para rentabilizar, estava tudo já esquematizado.

Acha que o facto de ser mulher pode ter tido alguma importância para não ter recebido a comparticipação?

- Eu pensei nisso no princípio. Primeiro: "Não vou ser paranóica, não me dão agora dão-me depois!"; depois, pensei: "Será por ser mulher?". Mas não era! Porque a Maria de Medeiros fez, fez a Teresa Villaverde e fez a Margarida Gil. E eu concluí: "Não, não é por ser mulher, então porque será? Será porque eu pus o meu nome primeiro no Rosa de Areia e o do António a seguir?" Mas não. As pessoas que foram enterrar o António, os seus colegas do cinema, portaram-se muito mal. Pena não tinham nenhuma – eu não vi, mas pessoas minhas amigas viram. Também não era por eu estar a querer fazer cinema sem o António, portanto. Finalmente, gostava que me explicassem esse mistério, porque se repetiu, foi uma recusa tão nítida, que houve qualquer motivo que se prolongou nos vários júris. Saber qual é, não sei. Gostaria que me dissessem. Não é por eu ser mulher, não foi por não ter cumprido as exigências, apresentei os documentos na hora certa, etc. Faltou-me uma coisa: ter uma boa cunha, nas antecâmaras perversas das atribuições de subsídios para o cinema.