terça-feira, setembro 14, 2004

023. "TRÁS-OS-MONTES" no Festival de Toulon - 1976


Capa do Cineclube, n.º 12-13 e contracapa com imagem de "Trás-os-Montes"

(Fotos de Cristina Fernandes)

António Reis e Margarida Cordeiro
colhem louros no Festival de Toulon


O público português (por enquanto só lisboeta) levou o seu tempo a aperceber-se de que o filme de António Reis e Margarida Cordeiro, «TRÁS-OS-MONTES», era uma obra importante, de uma grande força e rara beleza poética. A carreira do filme começou mal, para os lados de Bragança, onde a incompreensão de alguns não deixou ver o amor com que os dois cineastas nos falavam do nordeste português. Na capital, o público foi lento em ir ver uma obra que, pela sua seriedade e pureza de pedra rara, não aliciava o seu mau gosto nem despertava a sua embotada curiosidade. Para o fim, as pessoas foram acordando (e bem haja o Dr. Prado Coelho pelo apoio que deu à permanência do filme em cartaz*).
TRÁS-OS-MONTES terminou, finalmente, a sua carreira em Lisboa com os louros merecidos. E foi ao Festival de Toulon.
O cinema português ainda não tem suficiente ressonância para que todas as atenções se fixem nele. (E, no entanto, meses depois do 25 de Abril, toda a gente, lá fora, estava interessada em ver filmes que lhe falassem de Portugal). Ora, em Toulon, aconteceu que os membros do Júri - talvez cansados, talvez distraídos - vistos que foram os primeiros vinte minutos de filme, deram-no por visto. E saíram da sala. Com que consciência juízes destes iriam julgar TRÁS-OS-MONTES, não sabemos. O que sabemos é que, por sorte, António-Pedro de Vasconcelos apanhou-os em flagrante e caiu-lhes em cima. De rabo entre as pernas, voltaram para a sala. E então abriram bem os olhos e caíram em si. Uma grande injustiça esteve a pontos de cometer-se. Parece que alguns quiseram rever o filme. Para limpar a consciência. No fim limparam-na bem e julgaram com acerto. TRÁS-OS-MONTES foi justa e brilhantemente premiado.
Da nossa parte deixamos aqui um grande abraço para António Reis e Margarida Cordeiro. Com enorme satisfação, até pela longa amizade que a alguns de nós liga ao autor de «Jaime». Mas também porque levar o cinema português ao galarim, no estrangeiro, merece o nosso apreço e regozijo.

Revista Cineclube nº 12-13, Outubro/Dezembro de 1976, pág. 23, edição do Cineclube do Porto.
Artigo não assinado, da responsabilidade do Conselho Redactorial, composto nessa altura por: Alves Costa, André de Oliveira e Sousa, Armando Casais e Fernando Barbosa Dias.


Nota: (*) que exercia então o cargo de Director-Geral de Acção Cultural

Estas imagens da capa e contracapa do Cineclube, n.º 12-13 e esta interessante notícia sobre a exibição de "Trás-os-Montes" no Festival de Toulon foram-nos enviadas pela Cristina Fernandes da Janela Indiscreta. Obrigado Cristina pela colaboração!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E com muita saudade que gostava de ver de novo esse filme. Sou uma franco/portuguesa (nascida em França de pais portuguêses) e fiquei com essas imagens fixadas na alma. E revoltante de ver que essa obra nao tenha um espaço para existir. Fico esperando uma nova projeçao em Paris (como tinha sido o caso ha ums dois anos atras na cinémathèque française).

11:12 da tarde  

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