sexta-feira, setembro 24, 2004

033. "JAIME" - Crítica de Augusto Abelaira

Jaime

Todas as pessoas nascem. E em algum sítio, evidentemente. Mas aí está: de quantas pessoas que conheço sei eu onde nasceram? Por exemplo: Eugénio de Andrade, Cardoso Pires, Cargaleiro. Terão nascido em Lisboa? No Porto? Ora bem; aproveitando o aniversário do seu jornal, António Paulouro levou duas boas centenas de amigos ao Fundão e respondeu-lhes: nasceram por estas bandas... Sabiam?
Mas de muitas outras pessoas não só ignoramos onde nasceram, como ignoramos até que nasceram. Um caso, tirado dos mais recentes quatro mil milhões de habitantes do nosso planeta: Jaime Fernandes. E deste homem, que nem sequer sabíamos que tinha nascido, ficámos a saber, nós os que fomos ao Fundão, que era da Beira-Baixa.
Somente? Não: graças a uma espantosa média-metragem que lá foi projectada, e que veremos proximamente em Lisboa, ficámos também a saber que Jaime Fernandes morreu em 1969, depois de trinta anos de internamento no Hospital Miguel Bombarda. Um louco, portanto? Decerto. Mais um poeta que escrevia versos assim: «Animais como retratos de príncipes». E que pintava como... Vejam o filme. Ele vos mostrará como Jaime Fernandes pintava.
Meus senhores: acaba de nascer, cinco anos depois de ter morrido, um grande artista português. Um? Dois. O outro é o cineasta António Reis a quem temos de agradecer, portanto, dois (re)nascimentos: o Jaime Fernandes e o seu próprio. Que felicidade!

Augusto Abelaira - jornal O Século, 29 de Janeiro de 1974