domingo, julho 17, 2005

088. ROSA-POEMA EXPOSTA À EROSÃO

OS FILMES DO DIA
23.10 / 00.55 TV 2


António Reis (falecido há quatro anos) foi delicado e discreto poeta, que também escreveu poemas em forma de filmes - de Jaime (1976) à criação com Margarida Cordeiro, nos restantes, Trás-os-Montes (1976), Ana (1982), Rosa de Areia (1989). Este teve estreia mundial em Berlim, mas nunca estreia nacional. Conta quem o viu ser rara preciosidade (talvez invisível a olhos embaciados, consumidos de tanto lixo de imagem estereotipada). Acredita quem viu os outros poder haver tanta beleza em Rosa de Areia que a jóia se perca no monturo televisivo. São mulheres, homens, animais, personagens de sonho, aparições, desaparições, visões, sons, pedras, vento, areia, pó. De história nem pó. Se está disponível para atmosferas dum outro mundo de filmes, arrisque. Desde Jaime, «retrato» de um internado no Miguel Bombarda, a partir de falas estranhas e desenhos fantásticos, Reis (e Margarida Cordeiro) filmou o imaginário. Escutou a natureza, matérias essenciais, sabedoria a perder-se em lendas... Exprimiu-se em tempos e modos únicos, radicalmente livres. Este serão é para ínfima minoria, mas até os livros de poemas já só tiram poucas centenas de exemplares e deixam sobras.

Elisabete França

Jornal Diário de Notícias, pág. 71, 30 de Janeiro de 1995