031. "TRÁS-OS-MONTES" - Crítica de Jorge Leitão Ramos
É, provavelmente, o mais saudado dos filmes portugueses dos anos 70, em Portugal como no estrangeiro. Acto de amor por um povo, por uma terra, por uma cultura, Trás-os-Montes grava, indelevelmente, os sinais de uma resistência secular, as pedras, as lendas, os rostos, de um Nordeste onde outro espaço civilizacional se perfila.
Nem documentário nem filme de ficção, Trás-os-Montes escolhe a globalidade constituindo-se em obra aberta, capaz de fundir os elementos dessas duas «correntes» do cinema.
Tecnicamente não tem uma qualidade que correspondesse ao rigor artístico com que imagem, som e montagem são trabalhados. E é pena. Porque aí se constitui o único «senão» de um filme que merece o qualificativo de genial, adjectivo gasto, é certo, mas que aqui encontra perfeito cabimento.
Por uma vez, no cinema que se faz em Portugal, um filme é um olhar na cabeça do poeta.
Jorge Leitão Ramos - Dicionário do Cinema Português 1962/88, pág. 387, Editorial Caminho, Lisboa, 1989.
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