domingo, maio 10, 2020

227. SÓ O BARBEIRO

Só o barbeiro
julga que adormeço

saboreio
o tempo

Sigo as bicadas
a desenharem-me no pescoço
a sombra das orelhas

rio com as cócegas

vejo
como na infância
a mão pousando a tesoura em forma de A 

oiço falar de jogos 

E adormeço 

António Reis - Poemas Quotidianos, Portugália (col. «Poetas de Hoje»), Lisboa, 1967; p. 114, Tinta da China, Lisboa, 2017.