223. "TRÁS-OS-MONTES" no "Diário de Notícias"
Um êxito para o cinema português
O público e a crítica de Paris aplaudem"Trás-os-Montes"
Estas, as últimas notícias sobre a carreira além-fronteiras do filme de António Reis e Margarida Cordeiro, que, indubitavelmente, constitui um marco na cinematografia portuguesa. Um filme por certo não suficientemente visto no seu próprio país (embora, a custo, a sua permanência em cartaz na capital se tivesse saldado por um relativo êxito), mas que está, neste momento, a receber em França, sem qualquer favor publicitário premeditado, os favores do público, que tem esgotado a sala do Action Republique, e da crítica, que da Imprensa à Televisão e à Rádio tem realçado a presença de "Trás-os-Montes" na capital francesa. O jornal "Le Monde" tem inserido o filme, desde o início da sua exibição, na habitual secção "Filmes a Ver".
Concluído em 1976, "Trás-os-Montes" foi seleccionado para cerca de quinze certames internacionais, tendo obtido o Prémio Especial do Júri e o Prémio Internacional da Crítica, no Festival de Toulon de 1976, e o Grande Prémio do Festival de Manheim de 1977. No ano passado, foi incluído também no Festival dos Cahiers du Cinema, apresentado em Paris e posteriormente em Barcelona e em Lisboa.
"Um filme admirável"
Do "Le Matine" ao "Libération", passando pelo "L'Humanité" e o "Le Monde", toda a Imprensa parisiense tem referenciado, pela pena dos seus críticos da especialidade, a presença de "Trás-os-Montes", em circuito comercial, naquela sala de Paris. E os artigos publicados, pelo seu destaque e referências, revelam a unanimidade dos aplausos e do fascínio provocado por este filme que alguns não hesitam, como o conhecido crítico Joris Ivens, em classificar como "uma grande obra de arte". Também a televisão e a rádio francesas têm dedicado a "Trás-os-Montes" amplo espaço da sua programação. Jean Rouch, referiu-se, durante o programa "France Culture", ao filme de António Reis e na Televisão, na rubrica de grande audiência "Mosaique", a película portuguesa foi destacada entre os melhores filmes estrangeiros em exibição no momento em Paris, permanecendo o cartaz de "Trás-os-Montes" ao longo de todo o programa. Falando ainda de televisão, num dos programas regulares dedicados aos emigrantes, o mesmo filme foi aí largamente referido.
"As imagens do filme são de uma beleza que confunde sem que, no entanto, a forma estética apague, em algum momento, o significado histórico e social da película", afirma Jacques Siclier no "Le Monde", considerando a obra de António Reis e Margarida Cordeiro como "um documentário poético de combate". O jornal "Libération", insere em dois números muito próximos, duas críticas, uma de Joris Ivens e outra de Jacques Doyon, onde se convida o público francês a "ver e amar este filme admirável", para ambos salientarem a imagem final da película (o comboio conduzindo os emigrantes e o seu silvo agudo), que Doyon considera "provavelmente como uma das mais fortes imagens da história do cinema", e Ivens como "um sinal claro, imediato, bem compreensível", que põe "em alerta o espectador sobre o Portugal acordado, prestes a libertar-se".
Por seu lado "L'Humanité", num longo artigo assinado por Albert Cervoni, considera que ""Trás-os-Montes" é um dos mais belos e melhores filmes produzidos desde que Portugal começou a respirar normalmente, desde a queda do regime fascista", para acrescentar que o filme não se pode entender como um documentário ou uma película sobre uma determinada região do País, mas, pelo contrário "uma obra de pura e completa criação", "esteticamente bela, materialmente e afectivamente sensível", constituindo "um poema sobre um mundo, sobre recordações cheias de sensibilidade, um poema de ontem e de hoje".
Robert Chazal, comenta por sua vez no "France Soir", "Trás-os-Montes" "é um poema envolvente sobre um mundo que morre e onde se sente que esta agonia é o prelúdio de outras em regiões que gostaríamos de salvar".
Jornal Diário de Notícias, pág. 9, 19 de Abril de 1978.
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