terça-feira, dezembro 27, 2005

128. "TRÁS-OS-MONTES" - Crítica de Luís de Pina-2

[Estreia no cinema Satélite, Lisboa - Sexta-feira, 11 de Junho de 1976]

«Trás-os-Montes: segundo tempo»

Creio que um filme poético como "Trás-os-Montes" (poesia que seja "a fisionomia com que o tempo desliza", no verso profundo de Carlos Queirós) exigirá sobretudo uma visão pura, sem compromissos deformadores. As imagens de António Reis e Margarida Cordeiro têm essa carga de significado, de sentido, de mistério, que o próprio real contém e, nessa linha, é preciso saber ver completamente o que está diante dos olhos, saber ver dentro ou para lá da realidade directa que os autores vão filmando. Infelizmente, o espectador tem-se habituado ao artifício da história, da narrativa, do diálogo explicativo, da legenda auxiliadora, como se o real filmado não bastasse. E aqui, o que os realizadores nos pedem desde o início é que saibamos ver, "ver com os olhos da alma", como as crianças do filme, cuja visão, para mim, é o lado mais belo e mais puro do seu trabalho.
Como dizia ontem, é preciso ver este filme como quem lê versos, não só versos sentimentais ou românticos, mas versos autênticos, seculares, com "raízes, como a fumaça" (a citação é de Vinícios de Moraes), versos de vida e sociedade, de amor e memória, de dignidade e orgulho, de terra e sangue, de paixão e distância. Filme que se constrói sedimentarmente, pouco a pouco, é preciso saboreá-lo em cada imagem e em cada cena, em cada enquadramento e em cada sequência. Não há fio de enredo, senão o que brota da inspiração poética, não há agrado que não seja o saborear cada momento isolado do filme como se de todo o filme se tratasse. Uma pedra de Trás-os-Montes é de toda a terra da província, um rosto de velho ou de menino são todos os rostos, uma ideia proposta são todas as ideias que Trás-os-Montes pensa.
Neste sentido – e aqui Jean Rouch tem razão – o filme é único, como "Amarcord" é único. Não estou a comparar Fellini aos cineastas portugueses, mas apenas a ligar uma certa intenção comum de vivificar a memória, neste caso mais correntemente humanista do que no mestre italiano de Ramini. Em "Amarcord" não há enredo; há apenas cinema e, por isto, com ele o filme português é tão puro, tão novo, tão original na nossa cinematografia: nada se explica, tudo se vê, tudo se sente, tudo se compreende, tudo leva a amar e, daí, a procurar salvar a maravilha que é a portuguesíssima Trás-os-Montes, terra de reis, fidalgos, servos e santos, paisagem remota de sonhos, lendas, pedras e neve, áustera e antiga, falando como nenhuma outra um português que já existia quando não existia Portugal.
Continuo na minha e, como eu, todos os portugueses com um mínimo de sensibilidade e cultura: "Trás-os-Montes" não é nenhuma "abjecção" nem prejudica qualquer imagem séria da província, pelo contrário, mostra a pureza, a verdade, o encanto, o problema, o passado e o futuro de uma terra que não gosta de mentira e que as imagens não atraiçoam.
De resto, eu perguntaria: acaso as gentes da Nazaré, no fim dos anos 20, e já depois do 28 de Maio, protestaram contra a visão documental e rude de Leitão de Barros ao rodar ali "Maria do Mar"; ou acaso as gentes da Gardunha protestaram por terem sido mostradas sem enleios nos "Lobos", do Rino Lupo; ou mais ainda: acaso as gentes transmontanas protestaram contra essa obra tão sincera e tão verdadeiramente nordestina que é "Festa, Trabalho e Pão em Grijó de Parada", do Manuel Costa e Silva?
Temos que eliminar da nossa terra os resquícios de um certo gosto acatitado e estilizado, de bilhete postal, em tudo contrário à verdade das coisas. Neste sentido, "Trás-os-Montes" e, muito bem, é a antítese dos "Portugal de Hoje". Por isso eu recordo aqui as palavras do meu amigo Manuel Gama a propósito de um desses filmes artificiais e artificiosos que enganavam a realidade portuguesa, a verdade das nossas coisas. Dizia ele que tais filmes eram como que "croissants de pastelaria", nada se assemelhando "ao negro pão da terra que consumimos, fruto do trigo e do joio da nossa pobre messe". E tinha razão. "Trás-os-Montes" é a prova.

Luís de Pina

Jornal O Dia, pág. 7, de 16 de Junho de 1976

segunda-feira, dezembro 26, 2005

127. "TRÁS-OS-MONTES" - Crítica de Luís de Pina-1

[Estreia no cinema Satélite, Lisboa - Sexta-feira, 11 de Junho de 1976]

«Trás-os-Montes: primeiro tempo»

Devia se explicado aos espectadores de "Trás-os-Montes" que não apenas as obras de ficção são bons livros, mas também os livros de poesia, os livros de memórias, as reportagens, as entrevistas, tantas vezes bem mais empolgantes que os enredos de ficção. Isto porque me parece que o público vai ver "Trás-os-Montes" à procura de fio de história e não o encontra, ficando desapontado com o facto, mesmo apesar de o próprio António Reis vir dizer à sala, com tela escura e altifalante aberto, que se trata de uma película "diferente" e assim procurar alertá-lo para um outro tipo de expressão fílmica.
Esta é a primeira prevenção quanto ao filme e daqui avisamos o nosso leitor, pois "Trás-os-Montes", documento poético das terras de além-Douro bem merece ser visto, quase diria, é obrigatório ser visto, se esta obrigatoriedade não pudesse parecer suspeita.
A segunda prevenção diz respeito aos nossos distantes mas tão antigos e portugueses amigos que são os transmontanos. Não compreendemos, de facto, a indignação de alguns sectores do Nordeste perante as imagens da sua terra.
É preciso entender que se trata não de um documentário real de Trás-os-Montes, mas de uma evocação semi-documental, em que a fantasia se junta ao natural, das pegadas do seu passado mais genuíno, das razões esquecidas de um ostracismo vindo da longínqua e indiferente capital, dos momentos mais secretos do coração das pessoas, das surpresas que uma inspiração de criança pode suscitar, das imagens intensas que são sobretudo estados de alma.
Em vez de barragens e das obras públicas que são legítimo orgulho dos transmontanos, António Reis e Margarida Cordeiro preferiram os cristais gelados de um arroio na manhã de Inverno; em vez das casas, dos bairros, das indústrias e dos complexos agro-pecuários, os autores preferiram a pedra antiquíssima das casas aparentemente humildes mas ricas de afecto, calor humano e saudades em vez de estradas com camiões, autocarros e tractores, escolheram as veredas da montanha e os senteiros que traçam os campos; em vez dos fatos a preceito quiseram os rostos frescos das crianças e as caras enrugadas dos velhos, monumentos de dignidade e de história; em vez do tempo actual, preferiram a mistura poética de passado e presente, em que se fala de rocas de fiar e Branca Flor, em que se ouvem trechos de um cantar amigo e o português rude dos transmontanos se junta ao mirandês que nunca ouvimos em filmes; em vez de uma falsa amizade que parece levar-nos ao Nordeste, torna presente aquela distância enorme que separa a província das Gálias e das Germânias.
Descansem, amigos transmontanos, que a fita do António Reis e da Margarida Cordeiro não se propõe quaisquer intuitos tenebrosos, mas é uma límpida e pura homenagem sobretudo ao povo verdadeiro que sois todos vós, vistos e filmados com aquela singular e por vezes desconcertante verdade que tem o nome de Poesia, não a fácil e sentimental criação de agradável fantasia, mas o eco sentido de um povo que vive a sua liberdade, ama a sua terra e sabe como ninguém o que tem sido a ingratidão da História.

Luís de Pina

Jornal O Dia, pág. 7, de 15 de Junho de 1976

quarta-feira, dezembro 21, 2005

126. "TRÁS-OS-MONTES" - Crítica de Carlos Porto

[Antestreia em Bragança (1 de Maio de 1976) e em Miranda do Douro (2 de Maio)]

Depoimento sobre o filme "Trás-os-Montes"

Roteiro de uma dupla memória – a do real e a do fantástico; retrato de um duplo tempo e de um duplo espaço – o tempo histórico e o tempo poético; o espaço interior e o espaço aberto – «Trás-os-Montes» é uma fusão entre essas forças de atracção e de retracção, e é nessa descoberta da realidade entre o concreto e a fascinação que o filme de António Reis e Margarida Martins Cordeiro se torna legível transformando o fantástico em verosímil, o real em fantástico.
Filme perturbador, o filme de António Reis e Margarida Martins Cordeiro percorre, imperturbável, o itinerário de uma aventura mais do que arriscada: a de ser impossível, apaixonada, lucidamente entre, entre uma Idade Média reinventada (ao pequenos pajens, a lenda, a canção) e uma Idade Média real (a charrua puxada por dois jumentos); entre a pedra e o vento (os peixes petrificados pelo gelo, as figuras traçadas na pedra que o vento vai corroendo); entre o deserto gelado da fome (que dele se alimenta) e a esperança de um Sol algures; entre um país que existe e dói (estes Trás-os-Montes) é um país que não existe e dói (o da emigração).
Filme que se procura – e descobre – entre os interstícios das estórias que se evocam, nas rugas dos rostos sem idade, nos jogos ancestrais das crianças; filme que se oculta e desoculta para além e para aquém dele próprio, entre a morte e a evocação da morte; filme que se constrói e desconstroi entre as imagens e as imagens das imagens, entre a vida e a evocação da vida (os retratos antigos, a casa desabitada, a «domus», o passado e o presente). Filme que se perde e se reencontra nos escombros dos casebres, na lama dos caminhos, na neve da montanha, e é uma ausência/presença nos rostos, nas palavras, nos sons.
Filme que cerca um pais cercado – como custa receber ordens de um rei que se não conhece –, filme que nos abro esse país que é nosso e cuja geografia é a do deserto e a da ternura.
Filme que se situa entre o que é ainda possível dizer em imagens, palavras, sons e o que não é possível exprimir em imagens, palavras, sons – consegue portanto dizer-nos o que de outra maneira não podia ser dito. A sua função, o seu destino, a sua força – é pois a de uma poética inventada plano a plano (e onde surgem ali um Bresson, além um Vermeer).
Filme que cada espectador deve reinventar imagem a imagem, como a câmara reinventa um espaço outro e um tempo outro entre o pai a cavalo que se perde num longe já impossível e a filha que continua a dizer adeus, como a câmara que reinventa o país real no fumo da locomotiva que apita, apita, a caminho de Espanha/Alemanha, o fumo que a câmara transforma numa imagem do fantástico, e acaba por situar o filme entre esse fumo que se transforma em pequena nuvem negra e pesada, carregada de tempestade, carregada de gritos e furor, história que não é idiota porque é um pouco a nossa história, a histórias das nossas frustrações e a seta que aponta para a possível libertação.
Acusar este filme porque se colocar contra Trás-os-Montes ou por não nos mostrar o Trás-os-Montes que existirá, é não entender que o filme de António Reis e Margarida Martins Cordeiro é uma obra única e irreversível que já ninguém pode apagar da nossa história e do nosso quotidiano... Outros Trás-os-Montes existem, todos nós o sabemos. António Reis e Margarida Martins Cordeiro também o sabem, por isso se propõem continuar esta investigação. O seu amor por Trás-os-Montes e o conhecimento que ambos têm do seu povo – esta obra reflecte-os com uma beleza e uma dignidade incomparáveis.

Carlos Porto

Jornal Diário de Lisboa, pág. 14, de 27 de Maio de 1976

terça-feira, dezembro 20, 2005

125. "TRÁS-OS-MONTES" - Crítica de Nuno Bragança

[Antestreia em Bragança (1 de Maio de 1976) e em Miranda do Douro (2 de Maio)]

"Trás-os-Montes" visto por Nuno Bragança

Nuno Bragança, o autor da «Noite e o Riso» que, a par do «Maina Mendes» de Maria Velho da Costa marca uma data na ficção portuguesa acedeu a prestar-nos o seu depoimento sobre o filme «Trás-os-Montes» de António Reis e Margarida Cordeiro. Nuno Bragança que assistiu à antestreia do filme em terras mirandesas, escreve:
Este filme de António Reis e Margarida Cordeiro é poeticamente muito rico, e por isso a compreensão dos seus valores exige a abertura e a disponibilidade que são necessárias para se estender a linguagem que mergulha até às raízes da vida. Quero com isto dizer que o filme só é difícil para quem o complicar com interpretações superficiais.
O António Reis disse-me: «Isto afinal é um filme sobre erosão». Penso que ele queria referir exactamente o que significa a palavra erosão ou seja, um desgaste progressivo devido a agentes externos ou internos. E isso permite-me referir uma das coisas que mais me impressionaram nesta obra.
Neste Trás-os-Montes temos um vislumbre de comunidades cujos alicerces assentam em tempos recuadíssimos. Simultaneamente, assinala-se que factores sócio-económicos ameaçam destruir toda uma cultura, porque a emigração – para a cidade ou para o estrangeiro – nunca permitirá que culturas assim sobrevivam por se actualizarem. Ao ver o filme lembrei-me várias vezes da central atómica que a Espanha está instalando quase junto à fronteira transmontana, e que ameaça poluir a área do Norte de Portugal suficientemente vasta para nos criar problemas graves. Ora bem: eu penso que as culturas ainda ligadas ao seus substrato histórico são como as florestas ou os rios: se a industrialização as eliminar por não lhes permitir que se actualizem respeitando as verdades profundas que encerram, é a própria vida da humanidade que corre perigo. E se hoje, em meios culturais como o nordeste português, se verifica uma reacção generalizada contra certas tentativas apressadas de baptismo político, isso é devido à lamentável falta de atenção com que os missionários do progresso agiram, recentemente. E quando digo «atenção» refiro-me, mais do que à elementar delicadeza na abordagem, ao facto de que os dinamizadores culturais ou políticos devem começar por estender a cultura valiosa e multissecular existente em tais comunidades. E devem fazê-lo não só para fins de política local ou regional, mas mesmo nacional. Quando vi, neste filme, a panorâmica magnífica que nos apresenta transmontanos sentados no Domus de Bragança onde, em tempos antigos, os homens-bons tinham assento, eu pensei que devia ser possível obter o parecer de pessoas como essas em tudo o que fosse de grande importância para a vida colectiva. Porque os sofisticados habitantes da capital que habitualmente governam as nações estão demasiadamente longe de certas realidades que só as camadas populares aprenderam a ter em conta e que, portanto, só elas conhecem bem. Ao dizer isto tenho em mente sobretudo as dificuldades próprias de decisões revolucionárias que visam o progresso. É que o progresso autêntico nunca pode ter lugar por imposição de uma minoria ditatorial e portanto, assaz ignorante. Parece-me que toda a filosofia do poder popular parte do princípio de que as chamadas cúpulas revolucionárias só podem levar a cabo os fins que se propõem atingir se o fizerem segundo a linha que a prática e a reflexão das bases forem aconselhando. Ora as bases são feitas de pessoas concretas e não de abstracções intelectuais.
Este filme é também uma lição de respeito atento pela humanidade. E porque o António Reis e Margarida Cordeiro não se ficam em intenções e promessas, ele foi fazer uma antestreia para o povo que constitui a substância do seu filme, e por isso esta antestreia foi também um acto exemplar.

Nuno Bragança

Jornal Diário de Lisboa, pág. 14, de 11 de Maio de 1976

sexta-feira, dezembro 16, 2005

124. "TRÁS-OS-MONTES" - Crónica de Rogério Rodrigues

[Antestreia em Bragança (1 de Maio de 1976) e em Miranda do Douro (2 de Maio)]

Trás-os-Montes
do cinema
à vida real


De Trás-os-Montes como fronteira do luto e do subdesenvolvimento, o tempo que nos fica é de velhos que se vão apagando e de crianças que, mal começam a viver trabalham logo. O filme de António Reis e Margarida Cordeiro estreado anteontem em terras de Miranda dá-nos a beleza do real transformado. Nas feiras, mal definidos os limites do sagrado e do profano, as crianças transformam-se em animais silenciosos e espessos: últimos resíduos de uma beleza que substitui a harmonia grega pela violência bárbara. Mas, no fundo mais fundo é a história de um mundo que tem de estar condenado a morrer [pág. 1]

Viagem violenta com ternura de infância

Após uma penosa viagem com uma hora de espera na «fronteira» da ponte do Pocinho, onde o Nordeste Transmontano começa, chegámos a Bragança e amanhecia. A «carreira» partira de Lisboa às 15 horas, com convidados da Direcção-Geral da Acção Cultural, elementos da Direcção-Geral da Educação Permanente (preciosos no seu trabalho), Miguel Torga e André Crabée Rocha convidados de António Reis e Margarida Cordeiro e ainda alguns jornalistas. Antestreava-se o filme »Trás-os-Montes», de António Reis e Martins Cordeiro, em terras de Bragança e de Miranda.
Bragança sorna, com sol para gato e velha, no 1.º de Maio, sábado feriado igual a pacato domingo, com a Televisão espanhola o pratinho forte, assistiu de certa maneira indiferente à exibição do filme exageradamente belo, entre a ternura e a violência, ou violenta ternura. Habituada à narração clássica ao filme americano da pistola, do cavalo ou do «karaté», a população assistiu às ditas exibições frustrada saindo muito ao intervalo, não querendo ou podendo compreender o filme em ladrilhos, os frescos de um Trás-os-Montes de certa maneira sem tempo (de sempre).
«Não fica ninguém. Ontem foi-se embora a filha da Mariana». Assim de repente, no filme. Na paisagem, com a carreira o único elemento em movimento ao meio-dia mostrava-se Trás-os-Montes: um pombal em ruínas, uma árvore partida, uma casa de emigrante em construção. Depois da filha da Mariana vê-se no filme, todos irão. O próprio espaço será em breve transformado ficando apenas no roteiro da memória. Por isso (também) as imagens da dupla Reis-Cordeiro são preciosas. Hora e meia de pessoas que vão deixando de existir, progressivamente ausentes outras, para o «lançamento» do filme, que decorreu na Pousada de S. Bartolomeu estavam presentes as individualidades civis, religiosas e militares da capital do Nordeste Transmontano. Na alcatifa de pousada, actores do filme. O senhor Afonso de Montesinho, aldeia perto de Bragança, que teve uma pequena colheita de vinho que lhe deve dar para o ano inteiro, que conheceu o abade de Baçal que lhe ensinou a conta de S. Nicodemus, o senhor Afonso de Montesinho, ali a dois passos de França, que foi soldado em Cavalaria Sete em tempos de que quase só os antigos se lembram já. Estava deslocado, no almoço de pé e volante. A criança ruiva que no filme vê alguém (seu pai) partir com um lacinho nos cabelos para cerimónia de cidade contraída olhando tudo como pela primeira vez e o Armando, o Armandito, do Patronato, que sempre sonhou com um relógio e já tem relógio. Criança de perfil romano, vedeta por um dia soube dizer comovido: «Já não sou o mesmo depois de fazer este filme».
Bragança para trás, passado Vimioso, entrámos em terras de Miranda, cidade episcopal sem bispo. «Este ano os pães estão bons» - dizia-mo o sr. Amador, mirandês de capa nobre no acto de humildade e minúcia da dupla Reis-Cordeiro.
Deixar Bragança foi abandonar o quotidiano «foleiro» (como alguém da caravana observou) de pequenos comerciantes, funcionários públicos e estudantes. Sem indústria, sem banda de música, sem partidos de esquerda, com um grupo de teatro quase na «clandestinidade», Bragança não conheceu o filme que falava de si, nem lhe passou pela cabeça que o sábado em que os cafés estavam cheios era o 1.º de Maio, o Dia do Trabalhador. Apesar de tudo, Bragança conseguiu ainda, este ano, levar à cena uma peça de teatro. O padre Mourinho, que uns chamam o pai do folclore, outros politicamente contestam e ainda outros afirmam seguir na capa do abade de Baçal, dizia-nos: «É muito difícil fazer outras peças. Se estivéssemos em Lisboa talvez não fosse».
Chegados a Miranda, corremos para o Constantim. Feira e festa e pó (o padre rezava a missa enquanto ao lado romeiros comiam postas de carne mirandesa), a fronteira estava tensa. Não houvera abertura e as culpas eram mútuas. Tanto o governador civil de Bragança como o de Zamora não tinham dado ordens para a abertura da fronteira. Vendedeiras com o credo na boca, mais profano que sagrado deitaram contas à vida (os espanhóis não apareceram) e enfiaram a unha na gente que viera de Lisboa. Vinte e seis pessoas comeram carne (tenra é certo) e pó por três mil escudos. Não valeram de nada os protestos de Miguel Torga. Gente de Lisboa não é gente de Miranda.
Em Miranda era domingo desabitado. As suas duas mil almas esperavam em casa pelo jogo de futebol ou pelo dia seguinte.
Entretanto, montava-se na praça a tela para a exibição do filme de Reis-Cordeiro.
Os actores vinham chegando. Ao sr. Amador da Freixiosa um jipe da câmara fora-o buscar. Carros-automóveis ainda não chegam lá. Nem peixe, nem água, nem luz, com três barragens hidroeléctricas à distância de um pulo. Votou mas não viu televisão, não ouviu rádio, nem leu jornais e tem dois filhos emigrados na Alemanha custe ao padre Mourinho que sempre vai dizendo: «a cultura vai-se modificando um bocadinho porque as pessoas antigas vão morrendo, vão faltando». O rimance das «12 palavras ditas e retomadas» («13 raios tem o Sol, 13 raios tem a Lua: rebenta diabo que esta alma não é tua») já é conto de antigos, é de conservar, mas a colheita de vinho este ano não foi tão grande como no ano anterior e muito poucas terras foram semeadas de centeio. Dá para comer, não dá para gastar.
A seguir ao sr. Amador, celta disfarçado de camponês, chegou o Albino, o jovem pastor que abre o filme a assobiar estridente. Albino parece ter 11 anos. Tem 16. Guarda um rebanho de 100 ovelhas, um lobo tem andado a rondar o bardo. Ele é espertote mas para as letras não dava nada. É a mãe que o justifica. Aos 12 anos tiveram de o tirar da escola porque não conseguia passar para a quarta classe. No filme é uma personagem bíblico, belo de ver, mas a quem sempre faltou a alimentação que não fosse de batata e fumeiro, a quem a história do eléctrico do livro de estudos nada podia dizer.
Vai-se mirar no filme e sente-se como alguém em falta.

MIRANDA NA
PRAÇA À NOITE

Miranda é uma terra nobre. A senhora do C. D. S., proprietária de um café, anda preocupada. Todas as semanas aparece lá uma outra senhora a passar filme para as crianças e a falar com elas. Mas esta é comunista, anda preocupada a proprietária C. D. S. do café. Já proibiu a filha de ir falar com a «senhora» e muito menos ver filmes. Nunca se sabe. E traz dentro engulhados os resultados eleitorais. Ainda houve 11 comunistas em Miranda do Douro.
Os retornados para a senhora são outra praga. Vieram mexer um pouco na pacatez sem tempo da cidade episcopal sem bispo. Abriram um supermercado; o dono do outro é comunista. Sofreu boicotes mas agora tudo regressa à normalidade. As eleições mal passaram. Televisão é sempre espanhola.
Também em Miranda o filme sofreu tentativas de boicote. Mas ouviram-se expressões que não acabam. A praça encheu-se, era noite, pessoas houve que trouxeram banquinhos de casa, as outras em fila) de pé, iam tentando identificar as imagens pelo nome da terra.
[Um grupo comandado por três irmãos caciques locais ia dando razão de si. O filme é comunista, diziam de um lado para o outro esquecendo-se de ver o filme. Só mostram a] Não mostram as casas boas que cá temos. As séries americanas já chegaram a Miranda do Douro. O fôlego narrativo ou a sua síncope não podem ultrapassar as normas.
No entanto mais nenhum filme falou até hoje com tanto respeito, ternura e profundidade deles, do mirandês que vai deixando de existir ou que se esconde com o medo que lhe digam que não conhece as fáceis seduções da civilização da cidade, como o da dupla Margarida-Reis. Trabalho colectivo em que os realizadores são também o Albino, o Armando, o Luís, o sr. Afonso, o sr. Amador, eu sei lá.
Antestreia na próxima quinta-feira às 10 horas no Satélite. Provavelmente, também Lisboa não irá gostar. Se compreender, não se sentirá seguro de ser culto ou pelo menos minimamente sábio.

PARTIDA

Entrámos em Trás-os-Montes de «carreira» grande com muitas dificuldades em passar na ponte e partimos com a imagem do filme de um comboio de linha estreita e fumegante na noite a levar gente para a cidade ou para a estranja, franças e araganças.
«Não fica ninguém. Ontem foi-se embora a filha de Mariana».
Quando chegámos a Lisboa, Benard da Costa era ainda Benard da Costa, Nuno Bragança era Nuno Bragança, o tenente Geraldes era o tenente Geraldes da televisão e todos os outros eram todos os outros. Nessa tarde de viagem lemos jornais. Estávamos a chegar à capital do País. E todos fomos tomar banho. O Matos-Cruz, de Coimbra, encomendou bilhetes para o cinema em Lisboa. [pág. 20]

ROGÉRIO RODRIGUES

Jornal Diário de Lisboa, págs. 1 e 20, Terça-feira, 4 de Maio de 1976

NOTA: O texto apresenta, no original, problemas de composição. Copiámo-lo do jornal o mais fielmente possível, apenas deslocámos o texto entre [].

sexta-feira, dezembro 09, 2005

123. "TRÁS-OS-MONTES" - Notícias da rodagem

[Rodagem: Setembro-Outubro de 1974]

"TRÁS-OS-MONTES": FILME CONTRA A CIDADE

«O filme não é para a cidade, o filme é contra a cidade», afirma António Reis que assina a realização do filme «Trás-os-Montes», conjuntamente com M. Martins Cordeiro.
O filme, que inicialmente se designava «Nordeste», palavra limitativa que a cidade vulgarizou, chamar-se-á definitivamente «Trás-os-Montes», a cuja raia se dá por nome de «fronteira do luto».
Da Idade Média aos nossos dias, a obra percorre as lendas que chegaram a Trás-os-Montes ou dela partiram. Reintegra a sabedoria chinesa, por exemplo, na mirandesa. «Isto é nosso», diria um mirandês falando duma chinesa.
«Os actores não são profissionais, os actores são o povo transmontano».
Actores, além de outros, são o sr. Amador, camponês da Freixiosa, que, ao vestir a festiva capa mirandesa, retorna à sua dimensão de oráculo; o ferreiro de Ifanes, de 82 anos, gordo robusto, que escolheu a vida sedentária; os garotos Armando Manuel, «Armandito» na ternura dos que mergulharam nesta viagem e aventura através dos tempos, do Patronato de Santo António, de Bragança, com sardas que mais parecem borrifos de estrelas e ar profundamente triste; e o Luís Ferreira, a quem morrera a mãe há dois meses e que no filme teve de chamar mãe a outra pessoa. Optou pela libertação. «Um pequeno génio», como diria António Reis.
As filmagens demoraram 40 dias. Foram gastos 15.000 metros de fita. Após a montagem, serão aproveitados não mais que 2.000.
As verbas concedidas, que em dinheiro sonante atingem apenas os 900 e tal contos, não foram suficientes.
«Trás-os-Montes», produção do Centro Português de Cinema, foi patrocinado pelo Instituto Português de Cinema, com a colaboração da R.T.P. e da Tobis.
Da equipa técnica, além dos realizadores António Reis e M. Martins Cordeiro, fizeram parte o operador Acácio de Almeida, o assistente de montagem Carlos Nana, o iluminista João Silva e o técnico de som João Diogo. Foi director de produção, Pedro Paulo.

O «CASTELO DE HAMLET»

O filme, a ser estreado na Primavera, única estação que, intencionalmente, não aparece representada na película, terá a sua ante-estreia em Bragança e Miranda. «É um acto de justiça e gratidão para com o povo transmontano».
Algumas das cenas são como que o ultrapassar das barreiras do tempo, se é que há muros para o tempo.
Autêntica barbárie, nas suas capas ancestrais, normandos e godos, com olhos de violência azul, sobem as arribas de Algoso, tendo ao alto o castelo de algum «hamlet» trasmontano, em ruínas hoje, mas soturno e denso ainda.
As minas de estanho de Ervedosa, onde em tempos homens morreram de silicose, um corpo desconjuntado e cercado por montes, com chapas de zinco atordoando ao vento e fios como veias rebentadas assomando da profundidade da mina.
Um garoto, o «Armandito», explorando esta paisagem de pesadelo e sem tempo, enquanto chove torrencialmente.
A cena lúcida dos dois garotos a comerem pedaços de gelo numa ribeira: aparece-lhes um peixe congelado ainda com filetes de sangue riscando o dorso.
Mineiros com os seus capacetes pesados à vista, mirandeses e bragançanos com as capas nobres, reúnem-se na «Domus Municipalis de Bragança», arquitecturalmente única na Europa.
A Idade Média e Hoje, marcaram ali encontro. «É a primeira vez que vejo «mirandeses», diria, impressionado, um mineiro.
A última cena do filme é uma homenagem ao comboio que, a resfolegar, chega, há quase meio século, a Duas Igrejas.
O comboio passa, o maquinista diz: «Se for necessário, fazemos uma marcha-atrás». Repetem-se as filmagens. O comboio acaba sempre por chegar a Duas Igrejas.

n/assinado

Jornal Diário de Lisboa, pág. 6, 17 de Fevereiro de 1975 (republicado em Celulóide, n.º 209, págs. 8-9, de 10 de Abril de 1975)

quinta-feira, dezembro 08, 2005

122. PROJECTO "NORDESTE" - e o cinema em democracia

E o Cinema em Democracia
Questionário da revista Cinéfilo

Pergunta – Acabada, aparentemente, a censura e encontrando-se os cineastas numa nova situação política, de que modo acha que o cinema português pode responder ou inserir-se nesta nova realidade?
No seu caso particular, mantém os projectos anteriores ou, se os altera, em que sentido e porquê?

Responderam os cineastas Manuel Guimarães, João Matos Silva e António Reis.

António Reis:

Acabada, aparentemente, a censura, que sempre oprimiu ou destruiu a criação cinematográfica, e, numa situação política que desejamos seja realmente desalienante, cremos que o cinema português deve ser a expressão de uma incómoda e atenta revolução permanente.
Esta atitude vital é impensável sem a linguagem cinematográfica, (especificamente), cujo domínio e articulação fundamentam o cinema como Arte. O alcance estético e humano de cada filme dependerá, evidentemente, do grau de compreensão da realidade histórica dia-a-dia vivida... da consciência política dessa realidade global em transformação... da capacidade imaginativa e artística de cada cineasta. Quanto ao Nordeste, mantemos os projectos anteriores:
a sua concepção não pactuava com nada e ninguém...
Mesmo a sombra de uma árvore era, é, esteticamente geopolítica, interveniente e revolucionária.


Cinéfilo, n.º 36, págs. 16-17, de 15-21 de Junho de 1974

quarta-feira, dezembro 07, 2005

121. PROJECTO "NORDESTE" [TRÁS-OS-MONTES]

ARQUITECTURA DO NORDESTE
MÉDIA METRAGEM


António Reis, nome já ligado ao cinema desde que assinou os diálogos do filme de Paulo Rocha, Mudar de Vida, é um dos principais impulsionadores da ideia do Museu da Imagem e do Som. Dele é o projecto talvez mais ambicioso, em todo o caso o de maior premência: um filme sobre o Nordeste, sobre o qual António Reis, melhor do que ninguém, expõe numa memória oportunamente enviada ao Instituto Português de Cinema, o que é o projecto do seu filme. António Reis, esclarece neste texto que a seguir transcrevemos, o que poderá vir a ser um filme que, desde já, se nos afigura poder vir a abrir caminho a uma concepção menos passiva do que seja um cinema que inventarie a realidade portuguesa.

(1.ª MEMÓRIA)

• Na fase actual da Cooperativa, francamente aberta e inquieta, afigura-se-nos que, por muitas razões, haveria que dedicar pequenas verbas e grande atenção a documentários da natureza que o título sugere.

• Não são apenas certas espécies naturais que se extinguem ou massacram – e não há só espécies naturais...

• Claro que, entretanto, os «nossos» etnógrafos não dormiram... Mas dormem os milhares e milhares de fichas e fotografias nos arquivos de metal, enquanto as paredes de xisto tombam sem ruído, os telhados de colmo apodrecem – e os homens partem. Passa-se a bibliografia especializada e comunicações de Congresso um estilo de vida, já tão erodido como as terras. No ano 2000 (dizem), saber-se-á como os transmontanos... ou no ano 3000, etc. Assim nos sensibilizam os insectos fossilizados no âmbar do Báltico.

• Irá mais longe o cinema do que os ficheiros? Será a sua película outro âmbar?

• O cinema circula e tem implicações globais. Não inventaria. Os eventuais conhecimentos científicos do cineasta são absorvidos pela estética e pela comunicação.

• A propósito da Arquitectura do Nordeste, ocorre-nos o «Nanouk» e a «Terra sem Pão» – réplicas impossíveis, mas documentos pertinentes e anzol na carne. Incentivo também.

• Há dias, por campanha pública, salvou-se uma árvore quinhentista (assim a designou a Imprensa). Ainda bem para a árvore, mas... o documentário era outro.

• Também se fez uma campanha internacional (e nacional) para salvar os pavilhões de Baltard, em Paris. Porém, os pavilhões tiveram menos sorte do que o nosso castanheiro das descobertas. O documentário também seria outro.

• Que a nossa Arquitectura do Nordeste, com uma simples coluna de xisto e lintais de castanho, vale mais – em função, forma e estrutura – do que os pavilhões positivistas de Baltard, qualquer arquitecto consciente o pode confirmar. Mas, para salvar, ainda não houve campanha a nenhuma escala...

• Poupamo-nos ao ridículo de pretender salvar a arquitectura algures e a olaria onde quer que seja.

• Mas o desafio para documentários de conteúdo bem complexo está lançado e há que aceitá-lo ou não. Nós, aceitámo-lo, sem paixão regionalista (nem somos do Nordeste) ou populismos fáceis. O que serão esses documentários ninguém o pode prefigurar. Implicarão uma luta corpo-a-corpo com formas ancestrais e modernaças, entre lobos e Peugeot 504, entre arados neolíticos e botijas de gás.

• Metáfora ou realidade, a Arquitectura do Nordeste é a nossa única arquitectura românica laica. Right elogiá-la-ia pela sua integração na natureza; Le Corbusier pelo seu funcionalismo. No entanto, o seu estilo não é uma simbiose remota das correntes que marcariam o nosso século. É, sim, a expressão do homem gregário contra os elementos e dominando os elementos; a aplicação de técnicas no conceito antropológico para dominar a natureza e transformar a natureza; a invenção sem fantasia, porque a neve tudo cobre e o vento tudo arranca; uma imaginação prática, porque o feno dos telhados foi cegado e o xisto das paredes deu centeio...

• ... expressão do homem gregário! Tão real e certa, que a hemorragia da imigração, a desagregação, solta as pedras uma a uma até à derrocada. Pelo menos postigo, cercado de caliça antiga, lobrigam-se olhos curiosos: mas são de velhos e crianças. Vulgarmente, a pedra do moinho, no centro da lareira, só tem cinzas antigas, sem histórias e lobisomens. A mesa do escano (arquitectura pura) não desce há muito para uma ceia em comum, ou na sua cama, não convalesce nenhum doente.

• Sobre toda esta «temática», que se emaranha pela memória e pelo escândalo propomo-nos rodar um filme de 16 mm, a preto e branco, como convém a uma ácida água-forte. António Campos, então a rodar o seu filme sobre Rio-de-Onor, prontificou-se a ser operador. Não poderíamos ter melhor colaborador para a realização que temos apenas em mente.

(2.ª MEMÓRIA)

• Pensa-se dar maior presença à flora do Nordeste e à geografia física (sem folclorismo), valores essenciais para significação da sua arquitectura telúrica e vitais em face da delapidação irreversível da natureza.

• Por outro lado, oscilando os seus valores plásticos entre Breughel e Rembrandt, a cor tornou-se imprescindível. Um campo de arçã (rosmaninho) e de maias é a apoteose do paganismo e requer cor: um lagar de azeite comunitário, com um castanheiro gigante abrigado numa casa, requer cor: uma coluna de xisto, com 5 m, da cor de ardósia, da nossa infância, requer cor, etc.

• No filme em questão, vai também incorporar-se uma dimensão vivida por todos nós e vivida «in loco» nas nossas permanências no nordeste: referimo-nos aos jogos... Aos jogos dos velhos e das crianças, que dialectizam na ponte da vida. A própria magia, obscura, lúdica, rescaldo, será integrada neste poema antiquotidiano e... quotidiano.

• Esta dimensão será retomada e constituirá a poesia essencial de outras realizações que, à escala nacional, oportunamente se proporão à Direcção do C.P.C.

• Conforme se especificou na memória inicial, o filme não será programático: o tema da arquitectura é uma realidade global habitada, exposta. Mas evidentemente que se articulará e enunciará a sua gramática formal, originalíssima. Para a sua expressão, supomos não estar desprevenidos, quer pelos estudos que esta arte sempre nos mereceu, quer por um trabalho sistemático feito com o arq.º Arnaldo Araújo para a efectivação da sua tese sobre a Arquitectura do Nordeste. Esta tese, «revolucionária» na Esc. Sup. de Belas-Artes do Porto, foi determinante para derrubar o academismo e para atrair a geração subsequente a novas vias.

• Em Trás-os-Montes, há nove meses de Inverno e três de inferno, pelo que a realização deste filme se deveria iniciar em Maio e Junho próximos. Contamos com as nossas três semanas de férias anuais para a tomada de imagens.

ANTÓNIO REIS


Cinéfilo, n.º 27, págs. 24-25, de 6 de Abril de 1974

NOTA: António Reis volta a referir-se ao seu projecto "Nordeste" (cujo nome, mais tarde, foi alterado para "Trás-os-Montes") no Cinéfilo, n.º 29, págs. 23-32, de 20 de Abril de 1974, durante a entrevista que deu a João César Monteiro sobre "Jaime".